O processo de formação do atleta segue um caminho longo, percorrendo uma trajetória de etapas específicas
Desde as etapas iniciais, da escolha da modalidade esportiva até a chegada ao ápice da formação, todo o processo deve ser orientado de forma criteriosa.
A formação da carreira percorre uma estrada anunciada e previsível. É preciso respeitar este caminho para não se queimar e/ou saltar etapas.
Sobretudo no Brasil, a carreira do atleta é prejudicada por um sistema de política educacional esportiva desestimulante. A Educação Física escolar não cria e muito menos estimula a prática esportiva de alto nível.
Os clubes procuram de certa forma preencher esta lacuna. Porém são poucos e, de uma forma geral, não apresentam uma estrutura condizente com a necessidade exigida.
A formação de base – A base da pirâmide
A iniciação atlética é a base para a consolidação de um trabalho eficaz. O processo de ensino-aprendizagem deve respeitar todas as etapas de desenvolvimento psíquico e motor do aprendiz. Deve-se levar em conta a capacidade individual de cada um para aprender e assimilar.
Aspectos cognitivos da ação motora tais como: concentração, atenção e tomadas de decisão devem orientar as práticas técnicas e táticas.
Aprender com criatividade, tornando o ambiente prazeroso, facilita a aquisição do conhecimento, o entendimento do jogo e amadurecimento tático. Nas fases iniciais de aprendizagem esportiva, deve se aprender brincando, através de pequenos jogos.
Jogar estimula a criatividade e a intuição. Aprender implicitamente não robotiza as ações e ampliam o repertório motor. Algumas escolas esportivas como a Escola da Bola na Alemanha e a Iniciação Desportiva Universal do Brasil são bons exemplos disso.
Os métodos analíticos, que valorizam os aspectos técnicos dos gestos motores também são importantes. Porém, toda a ação motora deve estar atrelada a processos cognitivos do jogo. Não se deve ensinar a técnica descontextualizada das situações e ações reais de cada modalidade.
O aspecto tático, a estratégia de jogo, o “quando” fazer, valoriza a tomada de decisão. Diante da imprevisibilidade das ações de cada modalidade, saber utilizar do repertório motor em momentos inesperados faz toda a diferença.
Assim se diferencia um atleta amador de um atleta profissional. Os experts possuem uma estrutura mental com dispositivos de memória mais flexíveis e complexos. Eles são capazes de buscar estratégias táticas mais complexas utilizando de ações técnicas apropriadas.
Processos de ensino – aprendizagem orienta o sucesso do futuro atleta
No processo de ensino – aprendizagem do treinamento, os conteúdos de treino se configuram como os pontos cruciais para a expertise.
O período de base de toda e qualquer modalidade esportiva estrutura e organiza todo o potencial genético que cada atleta possui. Sem uma base de qualidade não se forma um atleta com qualidades excepcionais e diferenciadas.
Os treinos, desde as categorias menores, devem se organizar numa periodização que o oriente de forma ajustada as necessidades individuais.
Uma formação coerente de carreira do atleta deve levar à especialização de qualidade. A variabilidade de conteúdos é fundamental para propiciar um ambiente motivador.
É tarefa árdua manter acessa a chama do interesse, da curiosidade e do desafios. Árdua tarefa pedagógica do professor em estimular o interesse pelo aprendizado num período tão longo.
A proposta de ensino na base, na formação do atleta é proporcionar ao aprendiz uma compreensão tática da modalidade. Aliado a isso, a capacidade de apresentar um repertório técnico capaz e eficiente é fundamental.
Abandono da prática esportiva. O que precisa melhorar?
Conhecemos muitas estórias de abandono no período de formação atlética.
Quantos talentos se perderam no meio do caminho? Quantos atletas chegaram no ápice e tiveram carreiras vitoriosas sem serem tão bons quanto aqueles que abandonaram?
Nem sempre os melhores, mais talentosos venceram. Porque? Injustiça? Não, absolutamente não.
O processo de formação é longo, tortuoso e de difícil acesso. As competências transcendem a questão do treinamento e invadem terrenos psicológicos.
Não é fácil ser um jovem que precisa dormir cedo, alimentar de forma adequada. Aguentar a pressão de resultados, a cobrança de dirigentes e técnicos fortalece a pressão. Muitos não aguentam .
Estudos revelam síndromes de intolerância e abandono. Burn out é uma delas. Pesquisas apontam um comportamento de estresse que causa o abandono da prática esportiva. Quantos casos conhecemos do abandono precoce. A pressão se torna insuportável, o atleta não pensa duas vezes e se retira do cenário esportivo.
A quem devemos culpar? O que está errado na formação geral dos atletas?
Na verdade é todo um sistema que não se acomoda e não impulsiona o verdadeiro desenvolvimento esportivo.
No Brasil, há um colapso do sistema formador de atletas. Sem uma política governamental eficiente, escolas despreparadas, e muitas federações mal geridas, ilustram um quadro desmotivante.
Não é fácil se tornar um atleta de ponta no Brasil! A grande maioria dos casos de sucesso coloca- se na conta de muita superação individual e familiar.
O que esperar de um futuro esportivo no Brasil
As ciências do treinamento estão aí para a elaboração de processos de treinamento eficazes.
A formação da carreira do atleta no Brasil está operando muito abaixo do seu potencial. Temos grandes atletas de base em um grande número de modalidades no Brasil. Porém a falta de estrutura econômica do país é prejudicial na trajetória e carreira de atletas.
Os esportes só darão frutos quando houver uma compatibilidade entre o potencial de vocação de formar atletas com o interesse político.
Esperamos mudanças no cenário brasileiro para a mudança de qualidade na formação de atletas.
Mas é fundamental independente do cenário político e cultural do país, melhorar a qualidade de ensino. Seja em escolas e clubes, independente do lugar é preciso termos uma Educação Física de qualidade.
Só assim haverá uma significativa valorização de métodos de treinamento compatíveis e eficientes para todas faixas etárias.
Escrito por Ciro Guerra
Formado em Educação Física, Ciro Guerra é sócio-proprietário de uma das mais bem conceituadas academias de pilates e treinos funcionais de Belo Horizonte, a Ciro Guerra Fitness.